Sempre fui um garoto “fora do comum”, mas nem sempre souberam disso.
Apesar de ter ganhado um show de talentos dançando na pré-escola, alguma coisa me transformou em um garoto tímido, o melhor amigo da tia da cantina, e que encontrou refúgio na sua coleção de DVDs e nas músicas de Christina Aguilera. Quando, aos 17 anos, perdi o pai da noite para o dia, dei meus primeiros passos para fora do casulo no qual havia me instalado, isolado em meu próprio mundo. Era hora de mudar, eu só não sabia como.
Nessa época, criei o personagem Fabrócolis, com uma peruca verde de papel machê, para apresentar um seminário corriqueiro de biologia no Colégio Bandeirantes e me declarar, pasmem, “a prova viva de que transgênicos são gostosos” – um jeito criativo para garantir a nota máxima, míseros 0.6; alguns meses depois, após uma vida de bullying e isolamento social, candidatei-me a Mister Band, o equivalente ao Rei do Baile nos colégios estadunidenses – fui aclamado, em cerimônia definida pelo professor de filosofia como “uma sátira aos padrões de beleza”. Percebi que ser ousado poderia ser muito divertido.
Foi nesse período que iniciei o site de cinema Pop with Popcorn e, mal sabia eu, comecei ali a minha trajetória como crítico, que me levou a cabular muitas aulas na faculdade para cobrir as sessões de imprensa – desculpa, mãe! – e também a participar de entrevistas coletivas com Hugh Jackman, Quentin Tarantino, Gal Gadot, Margot Robbie, entre outros; o site também me ajudou a conseguir o estágio na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, onde sou assessor até hoje, e a escrever na Revista Preview, um sonho realizado. Lembro de que fiquei triste com o fim da SET, a mais tradicional revista de cinema, mas feliz quando vi o Volume 1 da Preview nas bancas. 10 anos depois, eu entrevistava Fernando Meirelles no Hotel Fasano, para falar sobre Dois Papas.
Gabriel Fabri e Anitta
Assessoria de Imprensa – Virada Cultural 2019
Gabriel Fabri e Fernando Meirelles
Entrevista para a Revista Preview – Dezembro 2019
Mas a suposta timidez não passou com uma coroa de plástico da 25 de Março nem com a peruca de papel machê verde; não passou sequer entrevistando Senador em Brasília para um projeto de jornalismo, nem com a cineasta Suzana Amaral, maravilhosa!, me mandando para aquele lugar porque entendeu errado a minha pergunta – uma “aspas” tão surreal que virou o título da minha reportagem. Eu havia me descoberto no jornalismo, me aprofundei nos estudos e na dedicação ao cinema e ao jornalismo cultural, mas ainda faltavam peças no meu quebra-cabeça.
Eis o filme que mudou minha vida: Magic Mike. Pode rir, você estava esperando um clássico sobre jornalismo, A Montanha dos Sete Abutres ou Todos os Homens do Presidente? Eu também, mas a verdade é que estou mais para os desejos megalomaníacos de Cidadão Kane. Channing Tatum rebolando a bunda sem camisa despertou a minha vontade de chutar o balde de maneira tão grande que, três meses depois, lá estava eu, o garoto nerd magricela de sunguinha para uma aula de pole dance. Cheguei até a me apresentar no Teatro Maria Della Costa, onde voltei, no ano seguinte, com uma apresentação de jazz dance, e no outro, de teatro. Fiz um show de strip tease em um bar BDSM, comprei um terno laranja no Ali Express para dançar de Austin Powers, tirei fotos sensuais na água gelada e morri no palco algumas vezes – minhas colegas na Escola Burlesca são literalmente de matar, isso é fato.
Apresentação de Chair Dance
Espetáculo Escola Burlesca (Dez/18)
Entrevista com Sérgio Mallandro para o lançamento de Homens de Preto: Internacional
Se há algo de inspiração jornalística nessa história, é o de que eu resolvi me tornar o melhor personagem para uma (futura) reportagem: alguém que não fosse nada do que se espera dele.
Eu havia decidido que não seria igual aos outros. E aos poucos percebi que a graça da vida é mesmo não ser igual a ninguém.
Meu nome é Gabriel Fabri e essa é a minha história.
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